Especiarias
Hoje conheci pessoas novas. É bom conhecer pessoas novas, para podermos variar as conversas.
Conheci estas pessoas num trabalho novo, que comecei há uns dias. Não é nada de especial, é apenas um trabalho temporário. Mas permitiu-me conhecer as tais pessoas novas.
Também tenho ido almoçar a sítios diferentes, os meus horários mudaram e as minhas rotinas alteraram-se todas. Uma das consequências destas variações (e notei isso hoje com maior vigor) foi a perturbação da minha flora intestinal. Sim, o corpo humano é lixado; resiste à mudança e luta com todas as forças para manter o equilíbrio. Nunca vos aconteceu irem passar uns dias a um parque de campismo e, após algumas noites, começarem a sonhar com laxantes? Pois é.
Tudo isto para vos falar do meu trabalho novo. Nem sei se lhe posso chamar bem um trabalho, é mais uma ocupação, uma tarefa mecanizada para ganhar uns trocos e sobreviver nesta sociedade que se move à custa de alavancas douradas. Mas, apesar de tudo, estou a gostar. E sabem porquê? Porque exige.
Exige disciplina, disponibilidade, contacto humano, espírito de equipa. Exige vontade de aprender, dinamismo e expressão verbal. E também porque surgem pelo meio verdadeiras personagens de B.D., quais caricaturas sociais que pensávamos só existirem sob a forma de ilustrações nas páginas dos jornais ou como estereótipos da ideologia popular. Mas não, senhores, os cromos e os bimbos e os simplesmente ignorantes existem realmente, desde a velhinha de 70 anos que ameaça o seu interlocutor com tiros de pistola porque lhe desligaram a TVCabo, até ao jovem adulto que tenta efectuar um pagamento de serviços enviando o cheque por fax (!).
É verdade, a brejeirice existe e anda por aí - José Castel-Branco, Lili Caneças, Zezé Camarinha, Alberto João Jardim... e ficamos muitas vezes a pensar: "Isto não é real! Este gajo é a sério, ou está a gozar comigo?". Geralmente, não consigo chegar a uma resposta completamente satisfatória.
Devemos então criar um pelotão de linchamento e varrer a bimbalhada das ruas? Cortar o bigode às velhotas das aldeias? Rapar as suiças dos pastores alentejanos? Inverter os peelings das tias da linha e mandar para a tropa os tios apaneleirados (ok, ok, neste caso seria mais prenda que castigo)? A resposta é: NÃO. Não?
Não, porque a brejeirice é Pura. Reflecte uma espontaneidade e simplicidade que se expressa através dos comportamentos mais absurdos, das palavras mais ordinárias e/ou dos pensamentos mais desarticulados que se possam imaginar. Ou seja, não é cromo quem quer, mas quem pode. Aliás, todos nós podemos, de vez em quando - eu próprio posso, às vezes até várias vezes ao dia. E são estes pequenos fragmentos de pureza que condimentam o nosso quotidiano, tornando-o mais saboroso e apetecível. Acho que é isso que me agrada no meu novo trabalho - pode não ser muito exigente em termos físicos, nem um grande estimulante para as minhas células cinzentas, mas deixa-me provar estes sabores e conhecer pessoas que, tal como eu, podem. E com isso, meus amigos, torna a minha vida mais alegre.
Não, porque a brejeirice é Pura. Reflecte uma espontaneidade e simplicidade que se expressa através dos comportamentos mais absurdos, das palavras mais ordinárias e/ou dos pensamentos mais desarticulados que se possam imaginar. Ou seja, não é cromo quem quer, mas quem pode. Aliás, todos nós podemos, de vez em quando - eu próprio posso, às vezes até várias vezes ao dia. E são estes pequenos fragmentos de pureza que condimentam o nosso quotidiano, tornando-o mais saboroso e apetecível. Acho que é isso que me agrada no meu novo trabalho - pode não ser muito exigente em termos físicos, nem um grande estimulante para as minhas células cinzentas, mas deixa-me provar estes sabores e conhecer pessoas que, tal como eu, podem. E com isso, meus amigos, torna a minha vida mais alegre.
