quinta-feira, março 16, 2006

Braceletes

Quando os dias engolem as noites, as horas param, cansadas de correr, e refugiam-se debaixo da água que escorre, quente, do chuveiro.
Tiram o pó entranhado nos ponteiros dos segundos e ensaboam as porcas e os parafusos, para os dias continuarem a correr certos como um relógio suiço: sem Falhas e sem Pausas.
(apenas um Erro, aqui ou ali, mas dá-se corda e já está)
As horas embrulham-se no algodão macio e dançam ao som de saxofones e tambores, experimentam sabores e odores e sonham com dias sem Regras, antes de fazerem tiC-tAc outra vez.
Mas quando as noites engolem os dias e os ponteiros deixam de gemer, pode-se fumar e beber, acelerar sem ninguém ver, gastar dinheiro à toa e rir, sobre tudo e sobre nada.
Porque mesmo os relógios suiços gostam de sentir no corpo o Prazer de trocar de bracelete.