sexta-feira, agosto 25, 2006

AC/DC

Desde há alguns dias que tenho ar condicionado em casa. É porreiro, agora posso usar os meus halteres a qualquer hora do dia, sem correr o risco de ficar encharcado em suor. Também posso dormir vestido, e até tapar-me com um lençol, sem medo do síndrome da morte-súbita-por-asfixiamento-calorífico. Aliás, isto é tão bom que já estou a pensar em mudar-me para uma cidade onde faça realmente calor, como Évora, Beja ou Marraquexe, para poder usufruir em pleno do microclima digital. Depois, a partir de Outubro, faço as malas directo a Castelo Branco, à Covilhã ou ao Árctico, feliz por poder atafulhá-las apenas com calções, t-shirts e tangas-tigreza para as noites mais quentes. É nestes momentos que me apercebo verdadeiramente da evolução da espécie humana: ainda há uns anitos andávamos todos (também) vestidos com tangas-tigreza (neste caso com prejuízo obrigatório para alguns tigres - foi nesta altura que se formou a P.E.T.A.), a calcorrear o globo inteiro, sem mapas nem bússola, na eterna procura da Temperatura Amena, aquela que não estraga as alfaces e não apodrece os figos. Iniciou-se, aqui, o conceito de campismo moderno, o qual tem subjacente 3 critérios fundamentais: a) montar e desmontar o acampamento de 5 em 5 dias; b) não tomar banho por períodos prolongados de tempo; e c) adubar o mato esfincterianamente.
Hoje em dia é ao contrário: as tangas-tigreza são de algodão ou látex e estão guardadas na mala para ocasiões especiais, e as migrações sazonais são feitas em busca da Temperatura Extrema - Brasil, Egipto, Sierra Nevada, Pólo Norte -, já que milhares de séculos de aperfeiçoamento científico permitiram criar o Ar Condicionado, possibilitando, assim, às pessoas desfrutarem no exterior as Temperaturas Extremas, com a confiança de quem sabe que, em casa, os figos continuam maduros e as alfaces frescas. É por isso que alguns andam de cabeça levantada na rua enquanto outros fitam, cabisbaixos, o chão. Isso ou reumático.