quinta-feira, junho 01, 2006

Amor de mãe

Tic, tac, o relógio
Na cabeça da mamã
Toc, toc, o soalho
Sob os passos do bebé
Corre no sótão da memória, entre arcas e baús
Repletos de angústias e fantasias que, lentamente, ganham vida
Tic, tac, o relógio
Na parede da cozinha
Marca o tempo e marca o passo, até tocar a campainha
A cumplicidade desapareceu, extinguiu-se com o último fôlego da criança
(Como é que um ser tão pequeno pôde soprar com tanta força?)
Num crescendo de tormentos que naufragaram, subitamente, no silêncio absoluto de quatro paredes

É preciso esvaziar as arcas

Toc, toc, o bebé
Diz à mãe que quer sair
Chora e grita e ralha e berra e acorda o pai que está a dormir
Golpeia-o violentamente e encharca-o em suor carmim
Pela mão da sua mãe, que só quer o melhor para si

Tic, tac, o relógio
Na cabeça da mamã
O futuro é risonho agora
Que é só ela e o seu bebé